Assim surgiram as mulheres que moram em mim...Helenas!
Os rabiscos de Helena Bernardes, que ela chama de
poesias, revelam a alma de uma mulher “bicho do mato” que precisa viver entre
os humanos, respeitando a natureza e tudo que nela existe, até o tal do
bicho-homem
Há mais de meio século, quando uma criança nascia e
ria para a parteira, já era uma palhaça, nasci assim. Esses rabiscos do dia e
retalhos da noite, acumulados durante anos de experiências, nesse palco da
minha existência, foram a caixinha mágica recheada com alegrias, risos,
trabalhos, decepções, lágrimas, tristezas, dores, lutas, recomeço... E muitas
vitórias!
O amigo tempo foi grande parceiro, pois muitas vezes, deixou meu pensamento
livre, mesmo nas labutas diárias, dando-me oportunidade para alguns rabiscos, inúmeras vezes na palma da mão ou com o dedo no chão. Mas como grande parceiro
que é, reservou as madrugadas, para que quando a traiçoeira insônia chegasse,
fosse aprisionada com a inspiração e, juntas, retalhassem a silenciosa noite alinhavando letras, rimas e sons, transformando-os em versos e prosas.
Em todos esses momentos, a tristeza ou a alegria também eram companheiras fiéis,
pois, alma de poeta, só tem vida, se for alimentada com a seiva das lágrimas ou dos
risos. Porém, as mais poderosas companhias de todas as horas, foram as várias
mulheres que sempre moraram em mim, mas, que só aos poucos, fui deixando que se
revelassem e mostrassem o potencial de cada uma delas...Assim surgiram as
Helenas!
Ao ler estes rabiscos e retalhos que dei o nome de poesias, conseguirem
identificar qual delas foi a inspiradora, ficarei ricamente feliz, pois sei que
valeu o sacrifício para permitir viver em mim, todas estas mulhere...Será o incentivo para continuar alimentando-as!
Deixo como legado para as futuras gerações, apenas um exemplo de formiguinha
pelo planeta. Algumas histórias, muitas vezes contadas em versos e prosas,
como as dessas várias mulheres que deixo livremente habitarem em mim. Cada uma tem sua história, alguns leitores reconhecerão a participação especial
que tiveram, nas páginas inseridas do livro de experiências terrenas, dessas
minhas Helenas. Deixei algumas caixinhas mágicas em vários lugares, tenham
cuidado quando localizá-las e abrí-las, analisem primeiro com o coração, pois
aprendi que julgamentos ou decisões precipitadas, nos reservam surpresas
desagradáveis e pode ferir pessoas inocentes.
Eternos agradecimentos aos meus amados
familiares de laços sanguíneos, companheiros de lutas, foram o sustentáculo
para a evolução do meu espírito aqui na terra, principalmente Dona Preta, uma
das mulheres mais generosas e sábias que conheci.Uma grande mulher com um
metro e meio de altura... Minha mãe!
A grande família querida escolhida
por opção, neste período de lutas terrenas, que também me deixaram fazer
moradia em seus corações, mesmo não tendo nenhum laço sanguíneo, muitíssimo
obrigada! Não poderia ter feito melhores escolhas, ter ao meu lado
espíritos abnegados e tão evoluídos, que deram o melhor dos exemplos... Amar,
simplesmente amar, sem querem nada em troca!
Que meus filhos Pedro e João Paulo, saibam que foram eles e por eles, que
a seiva da vida continuou jorrando em meu coração. Hoje, se estou aqui
enfrentando todas as lutas e dores desse mundo com muita fé e amor, agradeço ao pai
deles, um grande irmão de outras vidas, que escolheu compartilhar comigo esses Preciosos tesouros!
A estes queridos amigos que me ajudaram e continuam ajudando, reescrever a minha história terrena, filhos e irmãos que meu coração
acolheu, e que conhecem tão bem, as páginas da minha vida, o meu
carinhoso e fraterno agradecimento!
Meus agradecimentos finais, são para os espíritos
amigos e protetores, que em forma de anjos ou homens, seguraram em minhas mãos, ajudaram-me a transpor as pedras do caminho. Espíritos iluminados, enviados
pelo Grande Criador e Arquiteto do Universo, guiaram-me e conduziram-me com
bons exemplos, ensinados por um simples e humilde filho de
carpinteiro... Jesus, O Cristo!
Tenho
o hábito de falar com o nosso Grande mestre e Irmão Maior, em qualquer
lugar que esteja. Não uso orações decoradas, sempre dou um telefonema
direto, papo de amigo pra amigo. Ele sempre me dá respostas
imediatas! Quando conto isso para as pessoas, sou indagada como estas respostas
imediatas chegam. Tenho
um segredinho, antes de fazer esta ligação direta, analiso primeiro o que vou
conversar e observo se as minhas atitudes estão de acordo com seus
ensinamentos. Se estiverem, sei que Ele ficará contente e já vou logo contando
toda minha história com bom humor. Sinto que a alegria invade minha alma,
sinto até vontade de cantar pra Ele. Nesse momento, transborda em mim o Amor
por toda a Natureza e tudo que nela está inserido, até o Bicho-Homem.
Quando
estou fazendo algo que sei que ele não vai gostar, pois sou humana e cheia de
defeitos ainda, preciso reencarnar um monte de vezes para
me reabilitar perante aos meus irmãos de infortúnio e também minha
consciência, vou logo dizendo à ELE com uma tristeza danada "Senhor, já sei
que me mostrou o caminho certo, mas tive um deslize, as tentações foram muitas,
não estou te pedindo pra me perdoar, só quero que me dê uma mãozinha iluminada
como a Sua, pra que eu segure e ultrapasse esse atalho tortuoso, que inventei de
passar. Sinto nesse momento que uma água salgada escorre pelo meu rosto, lavando aquela tristeza que eu tinha quando comecei falar com ELE. Nesse estado
de espírito, abaixo minha cabeça e deixo que esta LUZ irradie em mim, destas Mãos
Poderosas, transmitindo-me a Paz tão necessária, que busco naquele
momento.
Vejam que as respostas chegam de imediato, AMOR e PAZ,
que é tudo que ele nos dá. Entre erros e acertos, ele está sempre conosco,
pois é um Irmão Maravilhoso! Este projeto é resultado de um desses papos diretos! Completei recentemente 60 anos, sou uma idosa aposentada, com muito tempo pra ler, escrever, meditar e principalmente... brincar de poetisar!
Oh, sensação danada
Hoje o amigo sono bateu em retirada para deixar a poesia na madrugada fazer morada... Então surgiu isso aí que chamo de " Oh, sensação danada"!
Acordei com triste sensação, dessas que fez sangrar minha alma, apagou a chama do meu pobre coração e que fez chorar até meu precioso cão. Revi minha juventude de outrora em sonhos embaçados ir embora e, rasgando os céus em oração pedi pra não morrer agora. Quero ainda voar com os pássaros, nadar nas águas cristalinas do riacho e cozinhar ervas em meu caldeirão... Aos poucos ir colocando lenha no meu fogão!
Quero ainda rir muito de mim mesma quando na madrugada uma luz misteriosa invadir meu quarto e escutar uma voz dizer venha, venha. Ainda vou matar os amigos de rir também, quando contar a eles que quando faço amor sempre tranco a porta do quarto. Se porventura neste momento estiver por perto algum espírito errante, ele vai querer morrer de novo... De tanta vergonha das loucuras que faço!
Ah, essa sensação passou o dia todo comigo, até quando me banhei nua na bica hoje, ela não foi embora e está comigo até agora. Teima fazer-me rabiscar poemas na madrugada, mesmo com a luz apagada. Oh, sensação danada! O que queres fazer com este coração que em seu caminho só encontrou outros corações também esquartejados... Acaba com esta peleja, mostra pra ele um novo atalho!
Retrato de um poeta- Indriso
Escreve bobagens, retalha poesias
Embriaga-se na companhia da lua
Na madrugada, ouve o som da rua
Desenha rabiscos, pinta com dedo
Conversa com cão, inventa canção
Mesmo sem ter perto um bom violão
Cria seus poemas mesmo sem rimas
Apenas com tom e som do coração
A Natureza a Chorar
(Homenagem ao Código Florestal Brasileiro)
Choram as águas
Nas nascentes
Nos córregos
Nos rios
No mar
Choram as árvores
Nas montanhas
Nas florestas
Nas matas
No pomar
Choram os animais
Pelas queimadas
Pelos alimentos
Pelos vales
E o ar
Choram as flores
Nos espinheiros
Nos canteiros
Nos jardins
A sangrar
Choram as crianças
Pela fome
Pela sede
Pelo frio
Sem lar
Choram os pássaros
Pelas frutas
Pelos galhos
Pelos ninhos
A chorar
Águas, árvores, animais
Flores, crianças
Pássaros, eu
E a Natureza
A chorar!
Quero
Quero,
como quero viajar na escura carruagem da noite
E chegar escoltada pela luz de uma iluminada madrugada
Quero, como quero escrever algo que jamais foi escrito
Pintar cores que olhos humanos nunca viram no infinito
Quero, como quero deitar na relva e fazer doce carinho
Cheirar, beijar e de um abraço aconchegante fazer ninho
Quero, como quero o brilho dos meus olhos nos olhos seus
Compartilhando com doce magia o encanto dos dias meus
Quero, como quero construir histórias de amor e, sem dor
Criando telas com nossos belos dias em uma mistura de cor
Quero, como quero, quero escrever seja de que jeito for
E continuar alimentando esse bichinho, chamado de amor
Quero, como quero nesse magnífico picadeiro da vida viajar
Rir, cantar, bailar, sussurrar ou gritar...Ah, isso eu quero, ah!
Sorrir com o olhar
Às vezes sou santa
às vezes sou bruxa
vou te mostrar a
magia de amar
Se o frio passar
as flores chegar
você vai sorrir
cantar e bailar
Deitará no ombro
sorrirá com o olhar
dormirá agarradinho
e cansará de beijar
Vou, voar, voar
sobrevoar os céus
e aterrizar no chão
que seus pés pisar
Quase sem dor
Homenagem pra "Dona Preta "
O som da chuva caindo no telhado
Transporta-me para tempos passados
Crianças risonhas, ingênuas e peladas
Correndo dentro de valas de enxurrada
O trovão assusta, mamãe fala
“Olha o raio” crianças danadas
Testa enrugada sai da sala
Ah, teimosia é surra de vara
Corre um pra lá, outro pra cá
O Chicote chia... “Vem aqui já”
Maninha chora, esfrega os olhinhos
O cachorro late e sai de fininho
Cabelo escorrido na cara
Olhos vermelhos, arrepios de frio
Então mamãe pára e repara
“Vai já, tomar um banho quentinho”
Cheiro de açúcar queimado
Leite no bule com casca de canela
Fogão de lenha, labareda alta
Borbulha tudo em preta panela.
Lá vem um lindo anjo
“Tá docinho e bem quentinho”
Faz cafuné e dá carinho
É mamãe com seu jeitinho
Olho pela janela e a chuva foi
O que importa? Ela está morta
E muda e triste compreendo tudo
É só o amor... Quase sem dor
A Bruxa Helena-Meu Retrato
É
uma dessas mulheres que foi
empregada doméstica, cozinheira
arrumadeira, passadeira, pescadora
tiradeira de leite no curral e sonhadora
Não cavalgou no cavalo de tróia
e nem inspirou Manoel C. Bandeira
já varou noites ouvindo música
pintando com giz e escrevendo besteiras
Uma mulher que reverencia o sol
a natureza, a lua e as estrelas
faz vôos imaginários com os pássaros
e mergulha nas águas da cachoeira
Sabe manipular poções mágicas
com mel, ervas, café e chás
que sempre deixam um gosto na boca
De proibido, mas, “quero mais”
Causadora de ira e inveja em
santas e mal amadas mulheres
que entre descasos e desamores
aprenderam fingir e distribuir flores
Dama que esconde pensamentos secretos
usando máscaras para disfarçar
seus desejos escondidos pelo tempo
para encantar seus belos amores
Tem cara de mulher madura, mas é menina
sabe ser cúmplice e tem a língua ferina
faz amor no mato, na lama, na chuva,
na rede, no carro, na cidade ou na tenda
Faz os olhos de um homem sorrir
e prazer o seu corpo, sabe pedir
não tem preconceito de raça e nem cor
e sabe amar seus homens sem pudor
Traz alegria nos gestos e nas palavras veneno
pois carrega na alma o peso das mentiras
dos maravilhosos e eternos amantes
que fazem parte da história da Bruxa Helena
NAS MARGENS DO VELHO CHICO
Na noite calma e fria
minha canoa desliza
as águas do velho rio
Minhas calejadas mãos
outrora delicadas e macias
seguram agora um arpão
No caminho da luz da lua
um risco negro na água
faz meus olhos espiar
Ja chegou a hora certa
de levantar, mirar e atirar
pro arpão trazer o jantar
Uma vez a presa morta
miro as etrelas no céu
pra saber que rumo tomar
O fogo que logo avisto
de lenha no fogareiro
foi o farol pra mim voltar
Na porta do velho casebre
um ponto negro reluz
do meu cão a me esperar
Antes corria e banava o rabo
jeito de me cumprimentar
hoje só sabe me cheirar
Uma grande onça pintada
numa noite de espreita
meu cão ela enfrentou
Pra num deixar ele morrer
pulei na frente da danada
e numa facãozada eu matei
De velhice meu cão ficou cego
não da conta de me acompanhar
passo as noites matutando
nas estripulias que já passamos
Meu fiel amigo escuta calado
as histórias que vou lhe contando
A coitada era tão bonita
que minha alma ficou aflita
Jurei nunca mais caçar
Agora aqui com meu cão
dormindo na rede e sem risco
Fico esperando a vida passar
nas margens do velho Chico