Meus rabiscos Noturnos

Imaginar a vida sem amor é namoro sem avanços, rede sem doce balanço, fazer sexo sem vontade e viver pela metade!



segunda-feira, 18 de junho de 2018

As Helenas...


Assim surgiram as mulheres que moram em mim...Helenas!
Os rabiscos de Helena Bernardes, que ela chama de poesias, revelam a alma de uma mulher “bicho do mato” que precisa viver entre os humanos, respeitando a natureza e tudo que nela existe, até o tal do bicho-homem
Há mais de meio século, quando uma criança nascia e ria para a parteira, já era uma palhaça, nasci assim. Esses rabiscos do dia e retalhos da noite, acumulados durante anos de experiências,  nesse palco da minha existência, foram a caixinha mágica recheada com alegrias, risos, trabalhos, decepções, lágrimas, tristezas, dores, lutas, recomeço... E muitas vitórias!

O amigo tempo foi grande parceiro, pois  muitas vezes,  deixou meu pensamento livre,  mesmo nas labutas diárias,  dando-me oportunidade para alguns rabiscos, inúmeras vezes na palma da mão ou com o dedo no chão.  Mas como grande parceiro que é, reservou as madrugadas, para que quando a traiçoeira insônia chegasse, fosse aprisionada com a inspiração e,  juntas,  retalhassem a silenciosa noite alinhavando letras, rimas e sons,  transformando-os em versos e prosas.
Em todos esses momentos,  a tristeza ou a alegria também eram companheiras fiéis, pois,  alma de poeta,  só tem vida,  se for alimentada com a seiva das lágrimas ou dos risos. Porém, as mais poderosas companhias de todas as horas, foram as várias mulheres que sempre moraram em mim, mas,  que só aos poucos,  fui deixando que se revelassem e mostrassem o potencial de cada uma delas...Assim surgiram as Helenas!
Ao ler estes rabiscos e retalhos que dei o nome de poesias, conseguirem identificar qual delas foi a inspiradora, ficarei ricamente feliz, pois sei que valeu o sacrifício para  permitir viver  em mim,  todas estas mulhere...Será o incentivo para continuar alimentando-as!
Deixo como legado para as futuras gerações, apenas um exemplo de formiguinha pelo planeta.  Algumas histórias, muitas vezes contadas em versos e prosas, como as dessas várias mulheres que deixo livremente habitarem em mim. Cada uma tem sua história, alguns leitores reconhecerão a participação especial que tiveram,  nas páginas inseridas do livro de experiências terrenas,  dessas minhas Helenas. Deixei algumas caixinhas mágicas em vários lugares, tenham cuidado quando localizá-las e abrí-las, analisem primeiro com o coração, pois aprendi que julgamentos ou decisões precipitadas,  nos reservam surpresas desagradáveis e pode ferir pessoas inocentes.
Eternos agradecimentos aos meus amados familiares de laços sanguíneos, companheiros de lutas,  foram o sustentáculo para a evolução do meu espírito aqui na terra, principalmente Dona Preta, uma das mulheres mais generosas e sábias que conheci.Uma grande mulher com um metro e meio de altura... Minha mãe!


A grande família querida escolhida por opção, neste período de lutas terrenas, que também me deixaram fazer moradia em seus corações, mesmo não tendo nenhum laço sanguíneo, muitíssimo obrigada! Não poderia ter feito melhores escolhas, ter ao meu lado espíritos abnegados e tão evoluídos, que deram o melhor dos exemplos... Amar, simplesmente amar, sem querem nada em troca!
Que meus filhos Pedro e João Paulo,  saibam que foram eles e por eles, que a seiva da vida continuou jorrando em meu coração. Hoje, se estou aqui enfrentando todas as lutas e dores desse mundo com muita fé e amor, agradeço ao pai deles, um grande irmão de outras vidas,  que escolheu compartilhar comigo esses  Preciosos tesouros!

A estes queridos amigos que me ajudaram e continuam ajudando, reescrever a minha história terrena, filhos e irmãos que meu coração acolheu,  e que conhecem tão bem, as páginas da minha vida, o meu carinhoso e fraterno agradecimento!

Meus agradecimentos finais,  são para os espíritos amigos e protetores, que em forma de anjos ou homens, seguraram em minhas mãos, ajudaram-me a transpor as pedras do caminho. Espíritos iluminados,  enviados pelo Grande Criador e Arquiteto do Universo,  guiaram-me e conduziram-me com bons exemplos, ensinados por um simples e humilde filho de carpinteiro... Jesus, O Cristo!

Tenho o hábito de falar com o  nosso Grande mestre e Irmão Maior,  em qualquer lugar que esteja. Não uso orações decoradas, sempre dou um telefonema direto, papo de amigo pra amigo. Ele sempre me dá respostas imediatas! Quando conto isso para as pessoas, sou indagada como estas respostas imediatas chegam. Tenho um segredinho, antes de fazer esta ligação direta, analiso primeiro o que vou conversar e observo se as minhas atitudes estão de acordo com seus ensinamentos. Se estiverem, sei que Ele ficará contente e já vou logo contando toda minha história com bom humor. Sinto que a alegria invade minha alma, sinto até vontade de cantar pra Ele. Nesse momento, transborda em mim o Amor por toda a Natureza e tudo que nela está inserido, até o Bicho-Homem. 
Quando estou fazendo algo que sei que ele não vai gostar, pois sou humana e cheia de defeitos ainda, preciso reencarnar um monte de vezes para me reabilitar perante aos meus irmãos de infortúnio e também minha consciência, vou logo dizendo à ELE com uma tristeza danada "Senhor, já sei que me mostrou o caminho certo, mas tive um deslize, as tentações foram muitas, não estou te pedindo pra me perdoar, só quero que me dê uma mãozinha iluminada como a Sua,  pra que eu segure e ultrapasse esse atalho tortuoso,  que inventei de passar. Sinto nesse momento que uma água salgada escorre pelo meu rosto,  lavando aquela tristeza que eu tinha quando comecei falar com ELE. Nesse estado de espírito,  abaixo minha cabeça e deixo que esta LUZ irradie em mim,  destas Mãos Poderosas, transmitindo-me a Paz tão necessária,  que busco naquele momento. 
Vejam que as respostas chegam de imediato, AMOR e PAZ, que é tudo que ele nos dá. Entre erros e acertos, ele está sempre conosco, pois é um Irmão Maravilhoso! Este projeto é resultado de um desses papos diretos! Completei recentemente 60 anos, sou uma idosa aposentada, com muito tempo pra ler, escrever,  meditar e principalmente... brincar de poetisar!


 Oh, sensação danada 


Hoje o amigo sono bateu em retirada para deixar a poesia na madrugada fazer morada... Então surgiu isso aí que chamo de " Oh, sensação danada"!

Acordei com triste sensação, dessas que fez sangrar minha alma, apagou a chama do meu pobre coração e que fez chorar até meu precioso cão. Revi minha juventude de outrora em sonhos embaçados ir embora e, rasgando os céus em oração pedi pra não morrer agora. Quero ainda voar com os pássaros, nadar nas águas cristalinas do riacho e cozinhar ervas em meu caldeirão... Aos poucos ir colocando lenha no meu fogão!

Quero ainda rir muito de mim mesma quando na madrugada uma luz misteriosa invadir meu quarto e escutar uma voz dizer venha, venha. Ainda vou matar os amigos de rir também, quando contar a eles que quando faço amor sempre tranco a porta do quarto. Se porventura neste momento estiver por perto algum espírito errante, ele vai querer morrer de novo... De tanta vergonha das loucuras que faço!

Ah, essa sensação passou o dia todo comigo, até quando me banhei nua na bica hoje, ela não foi embora e está comigo até agora. Teima fazer-me rabiscar poemas na madrugada, mesmo com a luz apagada. Oh, sensação danada! O que queres fazer com este coração que em seu caminho só encontrou outros corações também esquartejados... Acaba com esta peleja, mostra pra ele um novo atalho!

                                  Retrato de um poeta- Indriso 

Escreve bobagens, retalha poesias 
Embriaga-se na companhia da lua 
Na madrugada, ouve o som da rua 

Desenha rabiscos, pinta com dedo 
Conversa com cão, inventa canção 
Mesmo sem ter perto um bom violão 

Cria seus poemas mesmo sem rimas 

Apenas com tom e som do coração


A Natureza a Chorar 
(Homenagem ao Código Florestal Brasileiro)


Choram as águas

Nas nascentes

Nos córregos
Nos rios
No mar

Choram as árvores
Nas montanhas
Nas florestas
Nas matas
No pomar

Choram os animais
Pelas queimadas
Pelos alimentos
Pelos vales
E o ar

Choram as flores
Nos espinheiros
Nos canteiros
Nos jardins
A sangrar

Choram as crianças
Pela fome
Pela sede
Pelo frio
Sem lar

Choram os pássaros
Pelas frutas
Pelos galhos
Pelos ninhos
A chorar

Águas, árvores, animais
Flores, crianças
Pássaros, eu
E a Natureza
A chorar!


Quero 
Quero, como quero viajar na escura carruagem da noite
E chegar escoltada pela luz de uma iluminada madrugada

Quero, como quero escrever algo que jamais foi escrito
Pintar cores que olhos humanos nunca viram no infinito

Quero, como quero deitar na relva e fazer doce carinho
Cheirar, beijar e de um abraço aconchegante fazer ninho

Quero, como quero o brilho dos meus olhos nos olhos seus
Compartilhando com doce magia o encanto dos dias meus

Quero, como quero construir histórias de amor e, sem dor
Criando telas com nossos belos dias em uma mistura de cor

Quero, como quero, quero escrever seja de que jeito for
E continuar alimentando esse bichinho, chamado de amor

Quero, como quero nesse magnífico picadeiro da vida viajar
Rir, cantar, bailar, sussurrar ou gritar...Ah, isso eu quero, ah!



Sorrir com o olhar 


Às vezes sou santa 
às vezes sou bruxa 
vou te mostrar a 
magia de amar 

Se o frio passar 
as flores chegar 
você vai sorrir 
cantar e bailar 

Deitará no ombro 
sorrirá com o olhar 
dormirá agarradinho 
e cansará de beijar 

Vou, voar, voar 
sobrevoar os céus 
e aterrizar no chão 
que seus pés pisar


Quase sem dor

Homenagem pra "Dona Preta " 

O som da chuva caindo no telhado 
Transporta-me para tempos passados 
Crianças risonhas, ingênuas e peladas 
Correndo dentro de valas de enxurrada 

O trovão assusta, mamãe fala 
“Olha o raio” crianças danadas 
Testa enrugada sai da sala 
Ah, teimosia é surra de vara

Corre um pra lá, outro pra cá 
O Chicote chia... “Vem aqui já” 
Maninha chora, esfrega os olhinhos 
O cachorro late e sai de fininho 

Cabelo escorrido na cara 
Olhos vermelhos, arrepios de frio 
Então mamãe pára e repara 
“Vai já, tomar um banho quentinho”

Cheiro de açúcar queimado 
Leite no bule com casca de canela 
Fogão de lenha, labareda alta 
Borbulha tudo em preta panela. 

Lá vem um lindo anjo 
“Tá docinho e bem quentinho” 
Faz cafuné e dá carinho 
É mamãe com seu jeitinho 

Olho pela janela e a chuva foi 
O que importa? Ela está morta 
E muda e triste compreendo tudo 
É só o amor... Quase sem dor



A Bruxa Helena-Meu Retrato 

É uma dessas mulheres que foi 
empregada doméstica, cozinheira 
arrumadeira, passadeira, pescadora 
tiradeira de leite no curral e sonhadora 

Não cavalgou no cavalo de tróia 
e nem inspirou Manoel C. Bandeira 
já varou noites ouvindo música 
pintando com giz e escrevendo besteiras 

Uma mulher que reverencia o sol 
a natureza, a lua e as estrelas 
faz vôos imaginários com os pássaros 
e mergulha nas águas da cachoeira 

Sabe manipular poções mágicas 
com mel, ervas, café e chás 
que sempre deixam um gosto na boca 
De proibido, mas, “quero mais”

Causadora de ira e inveja em 
santas e mal amadas mulheres 
que entre descasos e desamores 
aprenderam fingir e distribuir flores 

Dama que esconde pensamentos secretos 
usando máscaras para disfarçar 
seus desejos escondidos pelo tempo 
para encantar seus belos amores 

Tem cara de mulher madura, mas é menina
sabe ser cúmplice e tem a língua ferina 
faz amor no mato, na lama, na chuva, 
na rede, no carro, na cidade ou na tenda

Faz os olhos de um homem sorrir 
e prazer o seu corpo, sabe pedir 
não tem preconceito de raça e nem cor 
e sabe amar seus homens sem pudor 

Traz alegria nos gestos e nas palavras veneno 
pois carrega na alma o peso das mentiras 
dos maravilhosos e eternos amantes 
que fazem parte da história da Bruxa Helena 


NAS MARGENS DO VELHO CHICO

Na noite calma e fria
minha canoa desliza
as águas do velho rio

Minhas calejadas mãos
outrora delicadas e macias
seguram agora um arpão

No caminho da luz da lua
um risco negro na água
faz meus olhos espiar

Ja chegou a hora certa
de levantar, mirar e atirar
pro arpão trazer o jantar

Uma vez a presa morta
miro as etrelas no céu
pra saber que rumo tomar

O fogo que logo avisto
de lenha no fogareiro
foi o farol pra mim voltar

Na porta do velho casebre
um ponto negro reluz
do meu cão a  me  esperar

Antes corria e banava o rabo
jeito de me cumprimentar
hoje só sabe me cheirar

Uma grande onça pintada
numa noite de espreita
meu cão ela enfrentou

Pra num deixar ele morrer
pulei na frente da danada
  e numa facãozada eu matei

De velhice meu cão ficou  cego
 não da conta de me acompanhar

passo as noites matutando
nas estripulias que já passamos

Meu fiel amigo escuta  calado
as histórias que vou lhe contando

A coitada  era tão bonita
que minha alma ficou aflita
Jurei nunca mais caçar

Agora aqui com meu cão
dormindo na rede e sem risco


Fico esperando a vida passar
nas margens do velho Chico
 


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